sábado, 27 de maio de 2023

Andando para trás

Em 2009, cientistas descobriram que os movimentos naturais que a gente faz com os braços quando anda não apenas auxiliam no equilíbrio do corpo, como ajudam na economia de energia ao caminhar. Andar com os braços paralisados junto ao tronco requer um gasto metabólico 12% maior; se invertermos a ordem natural de sincronia – movermos o braço esquerdo com a perna esquerda, quando o usual é o braço direito com a perna esquerda – esse gasto sobe a 26%.

 

Portanto, deixar os braços livres sai mais em conta e, como o rotor de cauda de um helicóptero, impede que saiamos rodopiando por aí.

 

Escrevi uma crônica no meu antigo blog ‘Fala, Zanfra’ sobre isso (https://falazanfra.blogspot.com/2009/08/evolucao.html), onde brinco que “sabemos, desde criancinhas, que só os zumbis e as múmias conseguem caminhar sem mover os braços, mesmo assim andando de um modo bastante estranho”.

 

Não sei se algum maluco resolveu gastar mais energia e passou a andar com o braços amarrados numa camisa de força, mas acabo de ser surpreendido com uma nova descoberta dos cientistas: caminhar para trás – não sei se com os braços paralisados, também – traz “surpreendentes benefícios à saúde”, entre eles a melhora na estabilidade e no equilíbrio, o aumento da resistência dos músculos das pernas e a diminuição da carga nas articulações.

 

Resista à tentação de contorcer o corpo e olhar por cima do ombro”, dizem os cientistas. Ou seja, é para andar de costas sem olhar para trás. O que sugere que caminhemos sem possíveis obstáculos em nosso caminho aventureiro. O perigo de tropeçar numa cadeira desaparece, entretanto, se você tiver condições de caminhar numa esteira.

 

Vantagens que os cientistas não anteviram em relação à arte de andar para trás: uma delas é dar um show ao dançar uma música de Michael Jackson chamada ‘Moonwalker’; outra é dramatizar a saída de um ambiente, como Barry Kripke fez num episódio da série ‘The Big Bang Theory’.

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Na verdade

Meu neto Murilo, de cinco anos, começou a dizer ‘na verdade’ no começo de cada observação que faz. Não sabemos como aprendeu, mas deve ser da mesma forma que certas expressões passam a ser repetidas à exaustão por todo mundo, notadamente as pessoas menos dotadas de vocabulário próprio.

 

Não faz muito tempo, todo mundo falava ‘com certeza’ mesmo quando não se tinha certeza de nada. E para todo mundo qualquer atividade não corriqueira que traga sequelas também não corriqueiras é ‘gratificante’. Mesmo quando não é. Certas expressões viram moda e suas repetições se tornam irritantes.

 

Jornalista tem muito disso, embora devesse primar pelo vocabulário. A gente chama esse defeito – que mais parece preguiça de pensar e pesquisar – de uso do lugar comum. É um tal de festa que ‘não tem hora pra acabar’, dinheiro que dá para comprar ‘não sei quantos carros populares’ e área equivalente a ‘não sei quantos campos de futebol’.

 

Se jornalista, que deveria ser um exemplo de originalidade, comete o pecado de não ser original com tanta facilidade, por que as pessoas normais não podem cometer? Ensiná-las a não ser ‘macaquinhos’ com as palavras dos outros não vai ser fácil, porque são muitas as cabeças a orientar.

 

Particularmente, posso tentar desconstruir o eco da expressão na cabeça de meu neto, dizendo que ele deve usá-la somente quando for corrigir uma informação que ele mesmo passou. Pensei até no exemplo para isso: alguém oferece purê de batatas e você diz que não gosta; aí, você corrige – ‘na verdade, até gosto de purê de batatas, mas não quero comer agora!’

 

É ‘com certeza’ um bom exemplo, mas pode não servir de parâmetro para ele: ‘na verdade’, o Murilo não gosta de purê de batatas! 

Bichinho de pelúcia

Tem um vídeo no Instagram que mostra um pequeno cão carregando na boca um bicho de pelúcia maior que ele e se aproximando timidamente como q...