O brasileiro precisaria ter, eternamente, uma mãe de plantão. Uma daquelas mães bem chatas, que o obrigariam a levar o casaquinho num domingo ensolarado, porque com certeza vai esfriar depois. Daquelas que o impediriam de fazer as coisas absurdas que geralmente faz quando não tem a mãe por perto – e acaba pagando caro por isso.
O brasileiro se julga invencível,
indomável, invulnerável, imorrível, imbroxável e incomível, e só a mãe a seu
lado para lhe mostrar o contrário. Detalhe: a mãe de plantão deve viver para
sempre, ou pelo menos até o dia em que o filho morra, preferencialmente de
causas naturais.
Exemplo recente da falta
que a mãe faz: vocês acham que cem mães permitiriam que cem filhos atravessassem
ao mesmo tempo uma ponte pênsil que tem uma placa na entrada, alertando para a
capacidade máxima de vinte pessoas por vez?
- Ah, mãe, mas todo
mundo vai!
- Você não é todo
mundo!
Mas não tinha mãe nenhuma
de plantão, as cem pessoas sem mães de plantão atravessaram a ponte pênsil de
trinta metros sobre o rio Mampituba, divisa de Santa Catarina com Rio Grande do
Sul – repito: ultrapassando em cinco vezes a capacidade declarada da ponte – e a
estrutura cedeu. Até o momento em que eu escrevia este texto, havia cinco
desaparecidos.
Isso me lembra de um outro
caso antigo, com falha indesculpável das mães de plantão: um grupo de
estudantes da Universidade de São Paulo saiu de uma festa no próprio campus e
decidiu ‘esperar o tempo passar’ num prédio inacabado dentro da Cidade
Universitária.
O grupo não respeitou as
restrições de acesso à obra – uma cerca com a tela devidamente cortada por
visitantes anteriores e algumas fitas de contenção – e entrou no prédio para,
segundo alguns, ver o sol nascer. Ali dentro, uma estudante de Letras de 19
anos saiu em busca de um banheiro pelos corredores escuros, tropeçou num monte
de entulhos e despencou no poço do elevador, de uma altura de três andares,
morrendo ainda no local.
A primeira reclamação de
seus colegas foi com relação à falta de um sistema de vigilância que os
impedisse de ter entrado naquele lugar potencialmente perigoso. Ou seja: eles
invadiram um lugar que todos sabiam proibido, invadiram uma área que todos
sabiam precária, por estar em obras, e a culpa pelo incidente é da Universidade
– ou do Instituto Butantã, a quem pertence o prédio – por não colocar guardas
suficientes em torno da edificação, para impedir a invasão?
Uma reação absolutamente
normal, eu diria: o brasileiro é como uma criança mimada, que quer fazer o que
lhe dá na telha, mas quer que alguém responda pelas consequências de seus atos.
Quer enfiar o dedo na tomada e, após o choque elétrico, quer que seus pais
sejam interpelados pelo Conselho Tutelar, por incúria. Pois eu acho que as mães
de plantão resolveriam.
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