Meu neto Murilo, de cinco anos, começou a dizer ‘na verdade’ no começo de cada observação que faz. Não sabemos como aprendeu, mas deve ser da mesma forma que certas expressões passam a ser repetidas à exaustão por todo mundo, notadamente as pessoas menos dotadas de vocabulário próprio.
Não faz muito
tempo, todo mundo falava ‘com certeza’ mesmo quando não se tinha certeza de
nada. E para todo mundo qualquer atividade não corriqueira que traga sequelas
também não corriqueiras é ‘gratificante’. Mesmo quando não é. Certas expressões
viram moda e suas repetições se tornam irritantes.
Jornalista tem
muito disso, embora devesse primar pelo vocabulário. A gente chama esse defeito
– que mais parece preguiça de pensar e pesquisar – de uso do lugar comum. É um
tal de festa que ‘não tem hora pra acabar’, dinheiro que dá para comprar ‘não
sei quantos carros populares’ e área equivalente a ‘não sei quantos campos de futebol’.
Se jornalista,
que deveria ser um exemplo de originalidade, comete o pecado de não ser
original com tanta facilidade, por que as pessoas normais não podem cometer? Ensiná-las
a não ser ‘macaquinhos’ com as palavras dos outros não vai ser fácil, porque
são muitas as cabeças a orientar.
Particularmente,
posso tentar desconstruir o eco da expressão na cabeça de meu neto, dizendo que
ele deve usá-la somente quando for corrigir uma informação que ele mesmo passou.
Pensei até no exemplo para isso: alguém oferece purê de batatas e você diz que
não gosta; aí, você corrige – ‘na verdade, até gosto de purê de batatas, mas
não quero comer agora!’
É ‘com certeza’ um bom exemplo, mas pode não servir de parâmetro para ele: ‘na verdade’, o Murilo não gosta de purê de batatas!
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