domingo, 12 de março de 2023

Velhofobia

Uma vez, eu já perto de completar 50 anos, li matéria no Diário Catarinense sobre o atropelamento de um homem a quem o repórter se referiu como “um idoso de 51 anos”. Ou seja, uma situação – de idoso – a que brevemente eu me enquadraria, a depender da concepção do repórter.

 

Já que a condição de idoso se estabelece, legal ou formalmente, a partir dos 60 anos, o repórter deve ter usado um parâmetro pessoal para qualificar etariamente a vítima do atropelamento: ele, o repórter, mal devia ter passado dos vinte anos, e portanto alguém trinta anos mais velho que ele só podia estar decrépito e quase em estado de putrefação.

 

Não o culpo totalmente por isso, porque já avaliei as coisas mais ou menos por aí – com a diferença de que o fiz na infância: foi quando calculei quantos anos teria com a chegada do ano 2000 e concluí que, se não tivesse morrido de velhice, estaria alcançando absurdos quarenta e quatro anos de existência. Resumindo: é tudo uma questão de referência.

 

Deixa de ser mera questão de referência quando alguém, além de classificar uma pessoa com alguns mais anos de vida como idosa, a trata jocosamente como jurássica, fora de seu tempo e fora de seu lugar de existência. Quando isso acontece, o que se verifica é a chamada, e enquadrada legalmente, ‘velhofobia’.

 

Foi o que ocorreu com um grupo de três estudante de biomedicina de uma faculdade de Bauru (SP), que foram tripudiar em cima de uma colega de, vejam só, quarenta anos! "Mano, ela tem quarenta anos já. Era para estar aposentada", disse uma delas. "Gente, quarenta anos não pode mais fazer faculdade. Eu tenho essa opinião", emendou outra. "Ela não sabe o que é Google, acha que é o nome da professora", zombou a terceira.

 

Só faltou dizerem que o arco-íris, no tempo dela, era em preto e branco!

 

O que houve com o conceito de meia idade ou o top ten da sabedoria popular de que a vida começa aos quarenta? Eu, chegando aos sessenta e sete, como seria visto pelas meninas?

 

O que essas estudantes – nível superior, é bom lembrar – têm não é velhofobia, é defasagem cognitiva e comportamental!

 

A antropóloga Míriam Goldenberg, que contou essa história em sua coluna da Folha, sustenta: “Será que elas ainda não perceberam que a jovem de hoje é a velha de amanhã?” Como se isso fosse uma punição, ainda que tardia. Você tripudia sobre os velhos, esquecendo-se de que você também vai ser velho!

 

Discordo, embora possa provocar controvérsias. Não creio que os velhos se sintam punidos por serem velhos. Pelo contrário: acho que envelhecer é a maior das recompensas para quem não morre cedo.


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