sábado, 28 de janeiro de 2023

E se o Plano B falhar?

Dizem que o problema do trânsito de Florianópolis não é o excesso de veículos, mas a falta de ruas. A estabilidade do subdimensionamento de seu sistema viário é admirável. Demoraram quinze anos para construir a Via Expressa Sul – até então, o trânsito para o Sul da Ilha e para o aeroporto escoava por uma avenida de mão dupla, uma faixa para cada lado – e, ao final, esqueceram-se de construir um viaduto de acesso à rodovia SC-405.

 

O Sul da Ilha, aliás, sempre foi relegado a um terceiro plano. A praias como Armação e Pântano do Sul, por exemplo, até hoje se vai por uma minúscula SC-406 (rodovia Seu Chico) – que, como a avenida citada no parágrafo anterior, tem mão dupla, com uma única faixa para cada lado.

 

No calor deste sábado, imagine como estava o tráfego em direção às praias do Sul. Dez e pouco da manhã, e a fila de lentidão ultrapassava dois quilômetros. E isso fazia com que alguns espertinhos – e que certamente conhecem a geografia do Morro das Pedras – saíssem da rodovia Seu Chico e percorressem internamente a rua Sagrado Coração de Jesus. Essa rua sai da 406 pouco depois do Trevo do Erasmo e a reencontra alguns quilômetros adiante, já próximo ao Mirante e à entrada da Lagoa do Peri.

 

Só que a Sagrado Coração de Jesus é uma via de tráfego local. É revestida de lajotas, estreita – em alguns trechos, dois veículos não passam ao mesmo tempo – e estritamente residencial, com casas de médio e alto padrão nas duas margens. Uma rua de tráfego altamente restrito.

 

Pois bem. Com o crescimento da fila na rodovia Seu Chico, dezenas de veículos por minuto resolveram optar pelo Plano B (a rua Sagrado Coração de Jesus). Com isso, a tímida ruela do Morro das Pedras foi ficando saturada e com enorme fila no reencontro com a rodovia. Como é uma via de pouquíssimo trânsito, não há nenhum esquema especial para a entrada na SC-406. Quem quer sair da Sagrado Coração de Jesus para entrar na 406, tem de contar com a boa vontade dos motoristas que estão na rodovia.

 

Ou seja: eles têm de contar com a benevolência dos motoristas que tiveram a paciência de enfrentar a fila da qual eles fugiram! Você deixaria entrar na sua frente?

 

Pelo que avaliei durante alguns minutos que fiquei na junção da rodovia Seu Chico com a rua Sagrado Coração de Jesus, a demora para reentrar na estrada estava pouca coisa menor do que estaria se eles não tivessem fugido da fila.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

O DNA do Papai Noel

 O que esse menina de dez anos de Rhode Island (EUA) fez pode equiparar-se a um exercício de jornalismo investigativo, ou mesmo a um episódio de CSI: se Papai Noel existe de verdade, quem é ele?

 

Aos que não sabem do que estou falando, um resumo: na véspera do Natal passado, Scarlett Doumato, da cidade de Cumberland, deixou, como é hábito norte-americano, biscoitos e um copo de leite para o bom velhinho, que deveria visitar sua casa durante a madrugada; de manhã, notou que um dos biscoitos havia sido comido pela metade e parte de duas mini cenouras tinha sido arrancada a dentadas.

 

Não teve dúvidas: achando que o Papai Noel havia experimentado o biscoito e que suas renas haviam mordido as cenouras, coletou cuidadosamente o material, em saquinhos plásticos, e os encaminhou à polícia.

 

“Caro Departamento de Polícia de Cumberland, peguei uma amostra do biscoito que deixei para o Papai Noel e as renas na véspera do Natal e queria saber se vocês poderiam pegar uma amostra do DNA e ver se Papai Noel é real”, dizia a carta que Scarlett encaminhou junto com as ‘provas’.

 

A polícia entrou na história e encaminhou o material para exame. Só que não encontrou correspondência do DNA no arquivo nacional. Aí, fico em dúvida: não encontraram correspondência porque Papai Noel é um ser fantástico, ou porque o banco de dados só registra amostras de pessoas fichadas, e portanto o velhinho só estaria nele se fosse pego conduzindo o trenó em excesso de velocidade?

 

Os policiais de Cumberland ainda falaram num suspeito, mas as alusões claras a características que remetiam à lenda de Papai Noel dão a entender que eles estavam brincando.

 

A mãe de Scarlett disse que ela já havia tentado flagrar Papai Noel com uma câmara escondida, e eu acho que esse precedente deveria ter sido suficiente para que seus pais não tocassem em biscoitos ou cenouras quando fossem colocar os presentes na árvore durante a madrugada!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Novo golpe/469 anos

Apesar do título sugerir o contrário, são assuntos separados:


1 - Quando a gente menos espera, é quando eles aparecem. Pensam que, por ser aposentado – e, consequentemente, idoso – eles têm acesso irrestrito à minha credibilidade. E, como dizem que parte da culpa das vítimas de estelionato é delas mesmas, creem ter em mim um cúmplice.

 

Pois bem. Telefone fixo. Alguém que se identificou como Antônio Gomes da Silva e funcionário da loja Magalu do centro de Curitiba ligou ontem à noite e disse que um tal de Diego Martins Ribeiro, que alegou ser meu sobrinho, tinha tentando comprar uma TV (no valor de R$ 1.750,00) com um cartão de débito do Banco do Brasil associado ao meu CPF (cujo número ele disse). Avisou que a loja não aceitou a compra e sugeriu que eu entrasse em contato com o banco, para resolver a questão do cartão clonado.

 

Logo em seguida, ligou João Vitor, da mesma loja, contando a mesma história, mas mudando a TV para um micro-ondas (R$ 398,76) e alegando que a tentativa tinha sido pelo site – como se as compras pela internet e na loja física tivessem interligação. Sugeriu que eu entrasse em contato com o BB através de um ramal interno da Magalu (!!!), que minha ligação tinha de ser imediata porque o praxe da loja era bloquear até duas compras, mas a terceira era simplesmente autorizada.

 

Eu disse que ligaria em seguida – que raio de ‘ramal interno’ eu aceitaria usar, oras? Mesmo se tentasse ligar do meu telefone, porém, a polícia nos ensina que os golpistas seguram a ligação por cinco minutos, de modo a que você, se usar o telefone imediatamente, continua nas garras deles. Portanto, se fosse ligar, seria bem depois.

 

E houve ainda uma terceira ligação, também na sequência, denunciando a tentativa de compra de uma cafeteira. Minha mulher, que atendeu, avisou que abriria um boletim de ocorrência para denunciar o que estava acontecendo na loja e pediu o nome dele (ele repetiu Antônio Gomes da Silva e disse que era gerente da Magalu) e o telefone para contato, e ele deu um telefone de outro lugar. E aí não ligaram mais. Não foi nem preciso BO

 

Se fôssemos mais bobinhos, a aposentadoria que levei 35 anos para conseguir ia sair pelo ralo!

 

2 - Dos 469 aniversários de São Paulo, 42 eu curti por lá mesmo. Tirando os quase dois anos que passei no Japão e os 25 que estou morando em Florianópolis, assoprei velinhas junto com a cidade neste 25 de janeiro. E alguns desses ‘assoprar velinhas’ – sete, por baixo – foram como repórter.

 

Um deles, como repórter, merece uma comemoração especial: foi em 1984, quando nasceu minha primeira filha, Mariana. Eu tinha ido com o saudoso fotógrafo Evanir (Gaúcho) cobrir pela Agência Folhas a comemoração oficial do aniversário no Pátio do Colégio. Na volta, a colega Catarina Arimatéia me avisou que minha mulher tinha ido para a Maternidade São Paulo, na Frei Caneca.

 

Mariana nasceu às 17h50, no instante em que o também saudoso Mário Covas discursava no histórico comício pelas Diretas, na praça da Sé. 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Excluídos do IBGE

 Sou só eu, ou alguém mais por aqui não viu a cara de um recenseador do IBGE batendo na porta de casa? Até vi alguns rapazes e moças com o colete do Censo 2022 circulando pelas redondezas – três, para ser mais exato; um deles na minha rua – mas em casa mesmo ninguém mostrou seu sorriso cativante. O que me fez levantar a dúvida: o recenseamento é feito mesmo de casa em casa, ou é por amostragem?

 

Uma nota publicada pelo governo pouco antes do início da coleta, em 1º de agosto do ano passado, informava que “durante os próximos três meses, os pesquisadores irão a todas as residências dos 5.570 municípios do país’. Incluída a minha, suponho. Note-se que o ‘durante os próximos três meses’ terminaria em outubro, mas soubemos das dificuldades geradas pelo número reduzido de recenseadores e os ‘próximos três meses’ vão terminar só no final de fevereiro.

 

Posso estar enganado, mas acho que, além da minha, muitas outras casas não receberam a visita do IBGE. Por isso, a estimativa atual da população no país está bem abaixo da que o instituto vinha fazendo ao longo dos anos. Acho que são quatro milhões para menos, o que faria supor que eu e mais 3.999.999 habitantes não fomos alcançados pelos fazedores de estatísticas.

 

Vi pela tevê outro dia, e confirmei no próprio site do IBGE, que os ‘esquecidos do Censo 2022’ – aqueles que não receberam a visita dos recenseadores – poderiam corrigir o problema ligando para o número 137. Depois de várias tentativas, concluí que, ou há quatro milhões de pessoas ligando ao mesmo tempo, ou, como espelho do número baixo de recenseadores, há pouca gente para atender ao telefone. Só dá ocupado!

 

Quero lembrar que hoje é 20 de janeiro e que a coleta de dados deve estar concluída dentro de pouco mais de um mês. Sei que já terminaram os levantamentos em muitos estados, mas aqui em casa, ó, ainda não passaram, não! Já li sobre quilombolas, já li sobre as populações originárias, já li que, há uma semana, o Piauí tinha entrado na reta final, e que Santa Catarina tem 1.993.012 domicílios registrados...

 

Não sei se minha casa não está entre esses domicílios registrados, e por isso os recenseadores passaram em frente e fingiram que não viram, ou se realmente somos vítimas do percalço da falta de coletores de dados. Só sei que sempre tem gente em casa, e a desculpa de que bateram e ninguém atendeu não cola. Vou continuar tentando o 137 – quem sabe antes do final de fevereiro alguém atenda – porque não há nada mais excludente do que não constar num Censo feito pelo meno há cada dez anos!

domingo, 15 de janeiro de 2023

Evanescat lux

Às vezes, fico pensando como seria perder a visão depois de velho.

 

É claro que deixar de contar com qualquer dos sentidos ou faculdades motoras e intelectuais deve ser difícil – só para comparar: fiquei apavorado quando perdi o olfato por um único dia, por causa da Covid – mas ficar sem enxergar deve ser o pior dos calvários. Fiant tenebrae, façam-se as trevas, ao contrário da ordem divina para o surgimento da luz.

 

Se você perde o movimento das pernas, passa a se mover com uma cadeira de rodas. Se fica surdo ou mudo, pode expressar-se por sinais ou pela escrita. Mas, e se ficar cego? Passa pela minha memória um trecho da peça ‘O milagre de Anne Sullivan’, que assisti na minha adolescência, em que Hellen Keller aprende a se comunicar por pressões nas palmas das mãos...

 

Mas ela nasceu assim! Era cega, surda e muda de nascença! Portanto, por ser deficiente desde o berço, não teve a supressão dos sentidos através dos anos e não teve de aprender a viver sem eles. Mas quando isso acontece quando alguém já viveu parte sua vida – mais da metade, às vezes – e tem de se acostumar à ausência de algo que fazia parte de sua tarefa de viver?

 

O inspirador desde texto é o amigo Assis Ângelo, jornalista tarimbado, pesquisador e estudioso da cultura popular, que há mais de dez anos teve descolamento de retinas e perdeu a visão dos dois olhos. Trabalhador incansável, ele não parou até hoje.  Aliás, está até produzindo mais. Mas é claro que não consegue fazer as coisas sozinho: depende de alguém para ler para si, depende de alguém para digitar seus textos, depende de alguém que substitua a função de seus olhos – embora ele diga que não está enxergando, mas não perdeu a visão.

 

Aprendi com ele que a adaptação ao novo estágio da vida depende de resignação. Quando o visitei, logo no início do trauma, peguei-o medindo os passos entre o sofá da sala e a porta do apartamento e entre a porta do elevador e a portaria do prédio, ainda manuseando tropegamente a bengala apropriada e lutando para manter a caminhada em linha reta. Estava dando os primeiros passos para se adaptar à sua nova condição de mobilidade.

 

Falo bastante com ele ao telefone e percebo que sua energia, agora aos 70 anos, vem continuamente sendo renovada. Como eu disse, resignação. A nova condição não tem volta. Então, ou você se adapta a ela, ou morre, ainda que em sentido figurado. Ele se adaptou, felizmente para nós, seus amigos.

 

Mas eu não sei se me adaptaria. Não sei se conseguiria deixar de ver a novela, saber se está sol apenas olhando pela janela, saber que aquele barulho são as ondas batendo, acompanhar os pés de alface crescendo na horta, deliciar-me com a beleza feminina passeando na praia, escrever, escrever e escrever, corrigindo meu próprio texto, escolher as imagens que vão ilustrar a postagem, mexer com as imagens no Photoshop, rabiscar a aprender a pintar com aquarela, dirigir pelo trânsito caótico, jogar paciência spider no celular, fotografar a natureza, que parece cada vez mais exibida e fotogênica...

 

Não sei realmente se conseguiria.

 

Em tempo: para me ajudar com as expressões latinas evanescat lux (evaneça-se a luz, o oposto de faça-se a luz-fiat lux) e fiant tenebrae (façam-se as trevas), contei com a sabedoria e boa vontade do sobrinho Marcello Peres Zanfra, doutor em Letras Clássicas pela USP.

  

sábado, 14 de janeiro de 2023

Idosos vão dominar o mundo

Se tudo der certo, em 2050 terei 94 anos e estarei lúcido e saudável o suficiente para conferir a previsão da ONU de que nós, os idosos, teremos o dobro da população que temos hoje. Se chegamos hoje, os maiores de 65, a 761 milhões de habitantes no planeta, teremos 1,6 bilhão assim que a primeira metade do século terminar.

 

Comparativamente, representamos hoje 9,6% da população atual de 8 bilhões de terráqueos; em 2050, alcançaremos 16,5% da população mundial, estimada em 9,7 bilhões. Continhas simples de regra de três indicam que, enquanto o número de viventes vai crescer 2,12% em 27 anos, os maiores de 65 terão um crescimento de 6,9% em relação a 2023.

 

Não me lembro nada dessas coisas de progressão aritmética e geométrica, mas, dentro dos limites de minhas noções básicas, em 2077 – 27 anos além de 2050 – nós seremos 23,4% da população, que estará em torno de 11,7 bilhões. Ou seja, seremos 2,73 bilhões. Falo em ‘nós’ de uma maneira genérica, porque não acho que vá ver chegar o ano de 2077.

 

Se estiver vivo, o que é um pouco difícil, terei 121 anos, e meu cérebro provavelmente não será mais tão confiável.

 

Esses dados são globais e passíveis de alterações locais. No Brasil, por exemplo, a população idosa representa hoje 9,5% do total (20,5 milhões) e deve chegar a 22% em 2050. Na Europa, é 20% e vai atingir 30% em 27 anos. Nas demais áreas, a previsão de crescimento varia pouco: 19% na América Latina e Caribe; 18,5% na Oceania; 24% na América do Norte; 19% na Ásia. Na África, que tem os maiores índices de natalidade, a previsão é de que a população idosa cresça apenas 5,7% até a metade do século.

 

Essas são notícias alvissareiras a nós, que estaremos vivos, mas não serão nada boas em relação à população em geral, caso não sejam adotadas políticas públicas que garantam, pelo menos, o nível de emprego. Ou vocês acham que os velhinhos todos vão sobreviver com as aposentadorias?

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Límpidos olhos verdes

Tive uma agradável surpresa ao dar uma passada pelo supermercado, hoje de manhã: colocaram uma menina lindíssima no caixa. Em torno de vinte anos, longos cabelos castanhos ondulados, límpidos olhos verdes e um sorriso perfeito de dentes perfeitos.

 

E colocaram a moça no caixa preferencial, a esteira por onde circulam os velhos babões, como eu. Faltou colocar um cartaz amarelo, tipo display, alertando que o piso poderia estar escorregadio.

 

Fiquei tão embevecido com a beleza da garota que ia me esquecendo de uma caixinha com uma dúzia de ovos sobre o balcão. Mas ela me alertou: “Ai, moço!”, me passando o produto. Pensei em dizer “você diz isso pra todos (chamar de moço)”, mas minha garganta trancou e o máximo que consegui expelir foi um sorriso frouxo.

 

O supermercado fica à beira da rodovia, a cerca de um quilômetro e meio de casa, e eu costumo ir e voltar a pé. Passei boa parte do caminho de volta tentando arquitetar o que poderia escrever no blog sobre a musa do dia. Estava tão absorto que por pouco não fui abalroado por uma bicicleta, enquanto tentava desviar de um carro parado irregularmente no acostamento.

 

Seria a segunda surpresa do dia, mas nem de longe agradável como a primeira. E o detalhe curioso é que, se o veículo me acertasse, atingiria exatamente a caixa de ovos que eu ia esquecendo em cima do balcão.

 

Bicicleta é um bicho sorrateiro. Não faz barulho, e você só percebe sua presença quando ela está perto o suficiente para dar o bote. O ciclistas trafegam pelo acostamento e imaginam que os pedestres que dividem o espaço com eles andam sempre em linha reta, não tropeçam ou não resolvem parar de uma hora para outra para coçar a perna. O índice de atropelamentos nessas circunstâncias é, porém, estranhamente baixo.

 

No caso de hoje, o ciclista gritou “opa!” quando estava praticamente em cima de mim, mas tive tempo de puxar o braço e, principalmente, salvar a caixinha com ovos. Nada mal para quem começara o dia com a inspiração de um par de límpidos olhos verdes. 

domingo, 8 de janeiro de 2023

Inseguro residencial

Imagine: você é cliente especial do Banco do Brasil há mais de vinte anos. Um dia, uma moça da BB Seguros te liga e te oferece um seguro residencial em condições excepcionais: mensalidade acessível, um entre três presentes de boas-vindas a escolher – um deles pode ser o Google Mini, uma espécie de Alexa menos badalada, outro, uma fechadura eletrônica – e uma série de ‘assistências’ gratuitas.

 

Entre essas ‘assistências’, limpeza de caixa de gordura, dedetização, instalação de ar condicionado, desentupimento, aluguel de equipamentos... são várias, e tudo de graça.

 

Chegando próximo ao final do primeiro ano do contrato, imagine que a BB Seguros te manda correspondência falando da renovação automática, com um aumento pequeno da mensalidade. Tudo certo, você já esperava pelo aumento, não vai alterar sua planilha de custos e a vida segue.

 

Mas aí, no final do mês, imagine que você precisa solicitar uma das ‘assistências’ e descobre que seu seguro não foi renovado. Em contato com o SAC, te informam que o seguro não foi atualizado porque não havia saldo em sua conta corrente para quitar a mensalidade.

 

Uma conta especial – só imagine – que tem direito a cheque especial, não dispunha de saldo para quitar uma mensalidade inferior a cem reais. Uma conta de onde, religiosamente, eles sacaram suas parcelas mensais.

 

O pior, continue imaginando, é que você só ficou sabendo que seu seguro não foi renovado quando precisou dele. Ninguém tinha informado da não renovação. Imagine se sua casa pega fogo numa situação dessas! “Moço, minha casa foi destruída num incêndio, o que eu faço?” “Sinto muito, seu seguro venceu e não foi renovado, porque sua conta especial estava zerada!”

 

Imagine que você entrou em contato com a BB Seguros e eles deram a si mesmos o prazo de sete dias corridos para solucionar a questão. Imaginou? Agora, imagine se eles cumpriram o prazo que eles mesmos estabeleceram. E imagine se lhe deram satisfações sobre essa demora.

 

Pois é. Enquanto imagina, acione os canais competentes e meta o pau nessa cambada!

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Jargões

Cria de uma das editorias das mais férteis em temos do uso de jargões – a reportagem policial – resisti bravamente ao emprego de expressões típicas, lugares-comuns e gírias exclusivas das matérias criminais. Não que fosse contra elas. É que os tempos estavam mudando quando entrei na área, a editoria de polícia estava sendo aos poucos ‘purificada’, e eu tinha de me adaptar à nova realidade. A tônica dessa nova realidade era dar fim aos jargões.

 

Comecei na reportagem policial em outubro de 1977, quando alguns dos velhos repórteres ainda estavam na ativa – e, embora fossem cruciais para orientar a nova geração, traziam entranhadas em sua linguagem as expressões condenadas à filtragem. Naquele tempo, um presunto recheado de azeitonas não era uma iguaria de fino paladar a ser levada à mesa, mas o jargão típico para designar uma pessoa morta a tiros. Preferencialmente com muitos tiros.

 

Da mesma forma, um hospital não era um hospital, mas um nosocômio, os bombeiros eram os soldados do fogo, os advogados eram causídicos, o cemitério era a necrópole, os criminosos eram meliantes ou larápios, a maconha era a erva maldita e, se alguma vítima de crime estivesse caída de costas, para o repórter policial da época ela não estava simplesmente caída de costas, mas em decúbito dorsal.

 

Os tempos mudaram, a linguagem mudou – embora a duras penas – e hoje, mais de quarenta anos depois, são muito poucos os jargões policiais que sobrevivem no jornalismo. Um deles é o termo viatura para identificar o veículo policial. Os outros a gente ouve diariamente na TV, e parece, pela insistência e persistência dos repórteres, que não há outra forma de as coisas serem ditas: se um policial não der voz de prisão, provavelmente o bandido vai fugir; se o ladrão não anunciar o assalto, as pessoas certamente vão pensar que ele está tentando fazer outra coisa que não assaltá-las.

 

A TV, aliás, é a maior fonte de jargões do jornalismo moderno (?), e por isso mesmo, por seu alcance, um foco irradiador muito mais potente do que a imprensa escrita. Na verdade, o que a gente ouve na TV não são propriamente jargões, mas expressões de uso comum – à exaustão – que indicam, mais do que a limitação de termos, a pobreza de ideias.

 

Entra ano, sai ano, a temperatura não estará tão baixa se o repórter não falar em tirar o casaco do armário, a festa não será boa se não estiver pra lá de animada ou se não tem hora pra acabar e nenhuma pessoa das classes menos favorecidas estará apresentável se não vestir a roupa de domingo...

 

Além disso, o repórter sempre vai definir as dimensões de uma área comparando-a a campos de futebol (como se todo mundo conhecesse as dimensões de um campo de futebol) e mostrar comparativamente a quantidade de dinheiro envolvida numa transação calculando quantos carros populares dá para comprar com ela.

 

E isso quarenta anos depois de os jargões terem sido condenados à morte!

Bichinho de pelúcia

Tem um vídeo no Instagram que mostra um pequeno cão carregando na boca um bicho de pelúcia maior que ele e se aproximando timidamente como q...