Eu trabalhava na sucursal paulista da revista Manchete, em 1985, e Pelé ia receber a visita de Franz Beckenbauer. O falecido Salomão Schwartzman, diretor da sucursal, mandou a mim e ao fotógrafo Bentinho a Santos, para fazer matéria. Chegamos ao estádio da Vila Belmiro e ninguém tinha chegado. Pegamos uma bola no vestiário e, calças arregaçadas, começamos a brincar no campo.
Pelé chegou pouco depois,
acompanhado de uma equipe de produção da TV Bandeirantes, que estava gravando
um especial chamado ‘Jogando com Pelé’. Entre um take e outro do especial, Pelé
vinha bater uma bola com a gente. Arnaldo Bento fez uma foto (cromo) minha abraçado
com o ídolo, mas ela se perdeu no tempo.
Beckenbauer só chegou no dia
seguinte. Fomos encontrá-lo na bela casa de Pelé na praia de Pernambuco, no Guarujá.
Você atravessa a sala de estar e dá de cara com uma churrasqueira com um balcão
para umas quinze pessoas, confortavelmente sentadas. Cheirinho de linguiça na
brasa. À direita da churrasqueira, uma escada em caracol leva ao piso superior,
onde fica a quadra de tênis e onde Beckenbauer jogava com a esposa.
À esquerda da churrasqueira,
uma piscina de dimensões médias, com uma mesa e quatro bancos dentro da água. À
direita de quem sai da churrasqueira, a piscina ostenta uma enorme cascata artificial.
No gramado entre o cheirinho de linguiça e a piscina, uma estátua do Rei.
Beckenbauer desceu,
fizemos fotos, batemos um papinho... Ouvi dizer que Pelé tinha fama de
pão-duro, mas fiquei esperando que ele nos oferecesse uma linguicinha. O máximo
a que ele chegou, porém, foi sugerir “uma cervejinha” (meia). Ainda tentei
apelar para seu bom senso – “eu só bebo depois de comer alguma coisa” – mas só
experimentei a linguiça pelo olfato.
Pior: dali a pouco, ele
deu um ultimato: “Bom, agora vocês vão embora, porque nós vamos almoçar...”
Lamento ter perdido a
foto. Lamento não ter experimentado a linguicinha – ou, no mínimo, aceitado a
cervejinha. Mas nada me tira o orgulho de ter batido bola com Pelé.
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