Peraí... Se estou numa
rodovia de pista simples, sem iluminação, à noite, de moto, e vem um baita
caminhão atrás de mim, buzinando feito doido, pedindo passagem – vai que perdeu
os freios – o que eu faço?
Não penso duas vezes:
mando a moto para o acostamento e deixo o bruto passar. Vai, desgraçado, vai se
estourar lá na frente, bem longe de mim, que eu não quero ver corpos estraçalhados,
e se possível desabe numa ribanceira e não obstrua o tráfego. Nem vou querer
saber se o Código de Trânsito vai me dar razão se eu quiser continuar na frente
dele.
E o que o Benjamin fez?
Ele, que é advogado e deve conhecer todas as leis, menos a da sobrevivência,
ficou na frente do potente, confiando que o CTB o protegeria – como aqueles
motoristas que ocupam a faixa da esquerda e não deixam ninguém ultrapassar,
porque eles próprios estão respeitando o limite legal de velocidade.
E o que aconteceu?
Benjamin não saiu, como eu sairia, o caminhão não quis esperar, invadiu a
contramão para a ultrapassagem, voltou rápido demais, perdeu o eixo
longitudinal, e a carretona, carregada de contrabando, tombou no meio da pista,
servindo de parede para arregaçar a Fiat Dobló que o pobre e legalzinho do Carlão
conduzia.
Pra que tudo isso? Custava
o Benjamin ir para o acostamento? Ou será que ele estava prevendo tudo isso para,
com a morte do Carlão, consolar a viúva, Sol, que ele já havia consolado muito
tempo antes?
Deixo as perguntas para o amigo Mário Viana, jornalista, escritor, roteirista, que faz parte da equipe de Rosane Svartman na redação da novela ‘Vai na Fé’, da Globo. Se há alguém que sabe desses meandros é o Mário, porque o roteiro passa por suas mãos. E, já que ele está com a espátula e o requeijão na mão, por que não bota na estrada, na frente de um caminhão carregado com suas muambas, o mau caráter do Theo? Fica a sugestão.
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