Uma vez, eu já perto de
completar 50 anos, li matéria no Diário Catarinense sobre o
atropelamento de um homem a quem o repórter se referiu como “um idoso de 51
anos”. Ou seja, uma situação – de idoso – a que brevemente eu me enquadraria, a
depender da concepção do repórter.
Já que a condição de idoso
se estabelece, legal ou formalmente, a partir dos 60 anos, o repórter deve ter
usado um parâmetro pessoal para qualificar etariamente a vítima do
atropelamento: ele, o repórter, mal devia ter passado dos vinte anos, e
portanto alguém trinta anos mais velho que ele só podia estar decrépito e quase
em estado de putrefação.
Não o culpo totalmente por
isso, porque já avaliei as coisas mais ou menos por aí – com a diferença de que
o fiz na infância: foi quando calculei quantos anos teria com a chegada do ano
2000 e concluí que, se não tivesse morrido de velhice, estaria alcançando
absurdos quarenta e quatro anos de existência. Resumindo: é tudo uma questão de
referência.
Deixa de ser mera questão
de referência quando alguém, além de classificar uma pessoa com alguns mais
anos de vida como idosa, a trata jocosamente como jurássica, fora de seu tempo
e fora de seu lugar de existência. Quando isso acontece, o que se verifica é a
chamada, e enquadrada legalmente, ‘velhofobia’.
Foi o que ocorreu com um
grupo de três estudante de biomedicina de uma faculdade de Bauru (SP), que foram
tripudiar em cima de uma colega de, vejam só, quarenta anos! "Mano, ela
tem quarenta anos já. Era para estar aposentada", disse uma delas. "Gente,
quarenta anos não pode mais fazer faculdade. Eu tenho essa opinião",
emendou outra. "Ela não sabe o que é Google, acha que é o nome da
professora", zombou a terceira.
Só faltou dizerem que o
arco-íris, no tempo dela, era em preto e branco!
O que houve com o
conceito de meia idade ou o top ten da sabedoria popular de que a vida
começa aos quarenta? Eu, chegando aos sessenta e sete, como seria visto pelas
meninas?
O que essas estudantes –
nível superior, é bom lembrar – têm não é velhofobia, é defasagem cognitiva e comportamental!
A antropóloga Míriam
Goldenberg, que contou essa história em sua coluna da Folha, sustenta: “Será
que elas ainda não perceberam que a jovem de hoje é a velha de amanhã?” Como se
isso fosse uma punição, ainda que tardia. Você tripudia sobre os velhos,
esquecendo-se de que você também vai ser velho!
Discordo, embora possa provocar
controvérsias. Não creio que os velhos se sintam punidos por serem velhos. Pelo
contrário: acho que envelhecer é a maior das recompensas para quem não morre
cedo.
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